O TEATRO DA ÉPOCA ROMÂNTICA
O surgimento do teatro
brasileiro
Em 1838, foi encenada
pela primeira vez a tragédia Antônio José
ou poeta e a Inquisição, de Gonçalves de Magalhães (1811-1882). De acordo
com o próprio autor, foi “a primeira tragédia escrita por um brasileiro” e, até
então, a “única de assunto nacional”.
Apoiado pelo autor e
agitador cultural João Caetano (1808-1863), Gonçalves de Magalhães lançou as
bases para uma produção teatral que se consolidaria nas mãos do carioca Luís
Carlos Martins Pena (1815-1848), dando início à dramaturgia brasileira. Muitos
escritores românticos posteriores escreveram peças teatrais; entre eles, José
de Alencar. Joaquim Manuel de Macedo, Castro Alves, Casimiro de Abreu,
Gonçalves Dias e Qorpo Santo.
As diferenças de
estrutura entre as peças de Gonçalves de Magalhães e de Martins Pena são
marcantes. Enquanto o primeiro ainda segue o modelo da tragédia clássica,
estabelecido pelo filósofo grego Aristóteles, Martins Pena incorpora mudanças
introduzidas pelo Romantismo.
Segundo o modelo do
teatro clássico, uma tragédia deveria conter cinco atos e as falas das
personagens teriam versos ritmados, regulares. Além disso, seu protagonistas
deveria ser sempre um herói, sujeito capaz de “ações de caráter elevado”, como
apontado por Aristóteles.
Martins Pena substitui a
tragédia clássica pelo drama burguês, sem
essa restrição aos cinco atos. Também adota o texto em prosa e
transforma o ser humano comum em protagonista de suas tramas.
Ø Martins Pena e a comédia
de costumes
Como o teatro de
Gonçalves de Magalhães ainda apresenta características marcadamente clássicas,
Martins Pena pode ser considerado o primeiro dramaturgo romântico do Brasil.
A incorporação da prosa
como estilo, a representação inédita de um Brasil urbano e da sociedade
burguesa no tetro e o uso do humor na crítica aos costumes fizeram de Martins
Pena um dramaturgo muito popular em seu tempo. Suas peças se tornaram um
sucesso de público e crítica. Por isso, o escritor também costuma ser
considerado o verdadeiro inventor do tetro brasileiro.
Martins Pena produziu
intensamente: de 1833 a 1847 escreveu quase 30 pecas teatrais. Sua obra,
constituída em sua maior parte por comédias, satiriza a sociedade do século
XIX. A desigualdade entre ricos e pobres, os casamentos por interesse, a
corrupção da máquina pública, a exploração religiosa, o contrabando de mão obra
escravizada: todos esses temas são alvo da sátira social de Martins Pena.
Mesmo sem se aprofundar
na caracterização psicológica de suas personagens ou nas questões sociais que
suas peças abordam, o dramaturgo consegue trançar um amplo painel da sociedade
urbana carioca e brasileira do século XIX, época marcada pelo desenvolvimento
do capitalismo e pela ascensão da burguesia, tornando explícito o poder do
capital como intermediador das relações sociais.
Uma das fórmulas
utilizadas com sucesso por Martins Pena foi o humor gerado pelo contraste entre
personagens que representam o tipo interiorano – o “roceiro”, o “caipira” – e
personagens com hábitos sociais do centro urbano. Tradições e costumes
populares são representados nas obras, assim como a linguagem do sertanejo,
cuja caricatura é exagerada pelo autor para despertar o riso na plateia da
cidade.
Em relação à estrutura
formal do texto, a utilização da prosa na construção dos diálogos confere às
comédias de Martins pena um dinamismo até então desconhecido da planteia,
acostumada às encenações declamadas, ritmadas pelo verso metrificado e
regular. A construção do humor muitas vezes
se dá pela sucessão veloz de expressões e comentários irônicos atravessando os
discursos, como podemos ver no trecho de
Os dous ou o inglês maquinista, em que a inocente Mariquinha conversa com a
esperta Cecília a respeito de amores e namorados:
MARIQUINHA - Com efeito!
E amavas a todos?
CECÍLIA – Pois então?
MARIQUINHA –Tens belo coração de estalagem!
CECÍLIA – Ora, isto não é nada!
MARIQUINHA –Não é nada?
CECÍLIA – Não. Agora tenho mais namorados que nunca; tenho dous
militares, um empregado do Tesouro, o cavalo rabão...
MARIQUINHA – Cavalo rabão?
CECÍLIA – Sim, um que anda num cavalo rabão.
MARIQUINHA – Ah!
CECÍLIA – Tenho mais outros dous que eu não conheço.
MARIQUINHA – Pois também namoras a quem não conheces?
CECÍLIA – Pra namorar não é preciso conhecer. [...]
(Pena,Martins. Os dous ou o inglês maquinista. In: Teatro de Martins
Pena: comédias, Rio de Janeiro: Instituto Nacional do livro, 1956. P. 107.)
Em resumo, a simplicidade
da linguagem e a dinâmica dos diálogos, somados à crítica de costumes, à sátira
e ao humor, dão o tomo= das comédias de Martins Pena. Algumas das principais
comédias que escreveu são O noviço, Os
dous ou o inglês maquinista e O judas em sábado de aleluia.
Ø O teatro de vanguarda de
Qorpo Santo
Qorpo Santo é o pseudônimo com que o gaúcho
José Joaquim de Campos Leão (1829-1883) assinava suas obras. O nome incomum
corresponde a uma produção teatral igualmente estranha para os moldes da época.
Ainda que as peças de Qorpo Santo, como As relações naturais, deem, de certa
forma, sequência à comédia de costumes iniciada por Martins Pena, elas desafiam
quem tenta classifica-las. Certas características inovadoras, como a quebra da
linearidade e o intenso uso do nonsense
(situações e falas ilógicas, absurdas). Levaram Qorpo Santo a ser considerado
um antecipador do vanguardista Teatro do Absurdo, cujas peças, surgidas logo
após a Segunda Guerra Mundial, apresentavam situações incomuns. Talvez por ser
tão diferente do que havia em sua época, no entanto, o dramaturgo gaúcho morreu
sem ter seu talento reconhecido. Publicadas em 1866, suas peças demoraram um
século para ser encenadas.
lixo super lixo.
ResponderExcluirmmito bom, parabéns à professora e às alunas.
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